Teses são como sonhos. Se não escritos às pressas no momento em que vislumbramos a sua possibilidade, se esfumaçam, sobra nada.
Facilmente a gente se esquece do que antevia imaginado, pois já outro. Ela advem do invisível, o texto redigido é seu único corpo possível. E, apesar da sensação enganosa de evidência deixada pelos eurecas, não há definitivamente nada de óbvio, nada de natural ou espontâneo na sua percepção. É preciso moldar a coisa, com mãos de artesão, é preciso fazer curvar algo da realidade para que ela possa tomar existência. Pois tem que ser concebida antes de percebida.
Quando se intui que há uma tese possível por ali, é como se notasse os indícios de um alinhamento de vários planos, a configuração de um sulco que cruza um terreno de heterogêneos e acidentes. Então dá pra dizer: ali pode correr um rio. Mas se não se monta logo barragem e desvia curso d’água na vertente, enquanto ainda se sustenta a precária incidência da perspectiva reveladora, o tal rio evapora da paisagem e o alinhamento se desmancha. Como se nunca.
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